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florida!!!

Não sei se teria o gosto em saber se o egoísmo que me corrói surgiu de um fundamento da minha apatia, optado a dedo como forma de escape, ou se somente invadiu-me sem qualquer consentimento na altura em que ainda pouco gostava da pessoa que ilustrava todos os meus cenários de vida. Neste momento, a única certeza que me mantém presa a um elemento corpóreo, e à qual me agarro, é a de que esse meu físico não perdurará muito tempo; o meu psicológico há muito já desfeito em autopreservação.  Aquilo que sei, é que no véu  desta cidade, onde sou uma mera visitante  de passagem, ainda existe uma luz de uma finita crença, onde a minha romantização constante e busca insana por intensidade continuam a ser alimentadas pelo mesmo combustível desde o momento em que cá cheguei. Vivo de sentimentos de grande durabilidade, incitada a querer deixá-los possuir-me devido a esses dois fatores, porém eles geram uma expectativa na minha cabeça. Para alguém que se encontra barricada na casa de b...

primeira cassete

Parte Frontal ( um ) Fumo na varanda Uma mão nas cordas e outra no cigarro Conversamos sobre a rotina enquanto ela abranda Vítimas da arte e de todo o seu amarro Indivíduos pensativos e com pouca fé Fazemos da nossa conversa um desabafo Do ciclo, da perda, com uma xícara de café Pobres coitados, vítimas do embaraço ( dois ) Procuro sentido nos pequenos significados Nas pessoas que não conheço, nos lugares onde nunca estive Talvez este seja o limite dos meus pecados Não me conter, agarrar e corromper o que me cative Porém o meu coração aperta a cada batida Pois é questão de sorte contar com quem vai e com quem fica Estás do meu lado e desejo agarrar-te com força a mão Por te encarar como pecado e desejar-te em perdição ━━━━━━⊱ ▷ ⊰ ━━━━━━ Parte Traseira ( um ) Uma gota, um copo, um vaso Não se equivale à embriaguez dos últimos meses Por onde passei, limpei, deixei tudo raso Aclamando pessoas e usando-as várias vezes Estive bêbada em palavras e atos Ao ritmo da paixão que não sentia c...

anda estragar-me os planos

Talvez seja demasiado perfecionista. Planeio cada detalhe da minha vida ao pormenor, desejando que cada ação obtenha resultados apelativos ao meu consciente: uns poderão encarar como um defeito, poucos concordarão como sendo uma qualidade. Saboto-me ao estabelecer padrões inalcançáveis e deixo-me levar, à deriva das minhas expectativas, mergulhando num fundo oceano de amargura. Logo, quando bates à minha porta e me deixas a par dos teus planos , a espontaneidade atinge-me em ondas de frustração, pois sempre invejei a liberdade dos pensadores livres. Pois sei que nunca conseguiria  deixar nada ao acaso . Entrelaças os teus dedos nos meus e guias-me para fora de casa, com o desejo de me fazer encarar o mundo através teus olhos: com uma vastidão de possibilidades e novos sentidos. E é neste momento em que sinto o peso da realidade, da minha realidade, que se encontra em discordância com a corrente atual.  Mas, ainda assim, permito-me sonhar com um futuro em que eventualmente cons...

em ruína

Um, dois, três… Alcanço os pedaços de vidro e mancho a parede com o sangue, sentindo a sua textura na ponta das minhas unhas. Não creio que o sangue seja meu, mas de alguma forma veio parar às minhas mãos. Estas que alcançam os meus ouvidos e procuram abafar o ruído, banhando a minha face em falsa inocência.  Será que se eu gritasse, alguém escutaria as minhas preces? Naquela casa de papel, as marcas e o barulho sempre passaram despercebidos entre sorrisos de falsa esperança , desejando que um dia os mais próximos se apercebessem e viessem em nosso resgate. Eles colhem aquilo que semeiam , deviam pensar. Eu estou a colher a infância que não fora protegida, pois entre ternura e violência, batidas e passos são o suficiente para fazer o meu corpo estremecer. A minha ansiedade tornara-se uma mera fragilidade, invocada somente para não tolerar a repressão do silêncio e sufocar-me quando o barulho atinge as grandes escalas, visto que isso na minha cabeça só poderia significar duas coisas...

uma escritora no escuro

Pela movimentação urbana, o vento vagueia de forma ameaçadora até chegar a seu encontro. Muitos corpos colidem desmazeladamente contra o seu, procurando abrigo mediante toda a precipitação que os rodeia em volta da paragem. Estão apressados, preocupados com o trabalho para onde se irão atrasar, com os familiares que os aguardam em casa, com o horário a cumprir, com os amigos por ver, enquanto ela espera. Já ela parece taciturna, não sabendo distinguir se trouxera consigo o guarda-chuva ou se simplesmente o deixou ser levado pela corrente, apenas deixando-se permanecer no seu lugar, enfrentando voluntariamente a fúria do tempo presente. Do lugar onde se encontra, consegue facilmente captar o som dos comboios e das conversações paralelas, os quais parecem atormentá-la por serem altos demais, fazendo-a encolher-se e encarar fixamente o local onde o seu transporte deveria estar a atravessar neste preciso momento. Não quer olhar para trás. As suas mãos estão trêmulas, escondidas algure...

químicos

Branco delimita todo o meu espaço A minha angústia, o meu cansaço A clínica nunca me pareceu tão pesada Pergunto-me se a minha aparência de agora se assemelha ao tão mero nada A minha cabeça repousa no ombro da minha mãe ''Respira'', é uma palavra que dela advém E eu suspiro, encarando as pessoas e os seus problemas Sentadas, não sabendo que virão a transformar-se nas ilustrações dos meus mais novos poemas No consultório a minha pele é arrancada em retalho A médica procura uma resposta e exerce o seu trabalho A terapia é um privilégio, recebe quem a paga Então o que acontece àqueles cuja vida lhes saiu cara? Não querem descartá-los para a escuridão das ruas frias de outono Garantir-lhes veracidade quando admitirem que foram todos encaminhados ao abandono Deixando-lhes assim como última hipótese escutá-los e estender a mão Aceitar os químicos, as instruções e não propor uma outra solução … Eles estão a ajudar-me Mas também estão a afundar-me … Prometi que seria uma melho...

non opus est excitare

Acordo de manhã e leio o meu livro, abro as janelas e deslizo por entre os feixes de luz provenientes delas. Cantarolo uma harmonia que vem habitando a minha cabeça nos últimos tempos e cumprimento os meus vizinhos. O meu coração está leve e o tanto de amor que tenho para dar não se lhe encontra espaço suficiente. O mundo nunca fora tão belo. Acordo de manhã e bebo o meu café, abro as janelas e deslizo por entre o vento gélido que escapa sorrateiramente por elas. Coloco uma música ambiente e aceno para os meus vizinhos. O meu coração palpita levemente e o tanto de amor que tenho para dar não se lhe encontra conforto o suficiente. O mundo nunca fora tão curioso. Acordo de manhã e encaro o meu teto, abro as janelas e observo por entre o nevoeiro que por elas é transparecido. Sussurro uma canção de embalar e escondo-me dos meus vizinhos. O meu coração anseia levemente e o tanto de amor que tenho para dar não se lhe confia o suficiente. O mundo nunca fora tão limitador. Acordo de tarde e p...