uma escritora no escuro
Pela movimentação urbana, o vento vagueia de forma ameaçadora até chegar a seu encontro. Muitos corpos colidem desmazeladamente contra o seu, procurando abrigo mediante toda a precipitação que os rodeia em volta da paragem. Estão apressados, preocupados com o trabalho para onde se irão atrasar, com os familiares que os aguardam em casa, com o horário a cumprir, com os amigos por ver, enquanto ela espera. Já ela parece taciturna, não sabendo distinguir se trouxera consigo o guarda-chuva ou se simplesmente o deixou ser levado pela corrente, apenas deixando-se permanecer no seu lugar, enfrentando voluntariamente a fúria do tempo presente. Do lugar onde se encontra, consegue facilmente captar o som dos comboios e das conversações paralelas, os quais parecem atormentá-la por serem altos demais, fazendo-a encolher-se e encarar fixamente o local onde o seu transporte deveria estar a atravessar neste preciso momento. Não quer olhar para trás. As suas mãos estão trêmulas, escondidas algure...