anda estragar-me os planos
Talvez seja demasiado perfecionista.
Planeio cada detalhe da minha vida ao pormenor, desejando que cada ação obtenha resultados apelativos ao meu consciente: uns poderão encarar como um defeito, poucos concordarão como sendo uma qualidade.
Saboto-me ao estabelecer padrões inalcançáveis e deixo-me levar, à deriva das minhas expectativas, mergulhando num fundo oceano de amargura. Logo, quando bates à minha porta e me deixas a par dos teus planos, a espontaneidade atinge-me em ondas de frustração, pois sempre invejei a liberdade dos pensadores livres. Pois sei que nunca conseguiria deixar nada ao acaso.
Entrelaças os teus dedos nos meus e guias-me para fora de casa, com o desejo de me fazer encarar o mundo através teus olhos: com uma vastidão de possibilidades e novos sentidos. E é neste momento em que sinto o peso da realidade, da minha realidade, que se encontra em discordância com a corrente atual. Mas, ainda assim, permito-me sonhar com um futuro em que eventualmente consiga retornar à superfície, onde finalmente poderei voltar a sentir os grãos de areia à volta dos meus pés, sem qualquer preocupação.
A minha mão aperta a tua, em desconforto com o caminho incerto, e tu paras-me no início da nossa rota infinita, perguntando se deverias voltar noutro dia, ao qual reflito e acabo por te implorar por favor, anda trocar-me o passo.
Um sorriso espande-se nos teus lábios, largas a minha mão e começas a correr sem nenhum destino em mente, obrigando-me a acompanhar-te e a sentir o vento retirar-me os cabelos do rosto. Encaro a tua silhueta demarcada pelo pôr do sol e então sorrio de volta, apercebendo-me que o mundo sempre esteve nas palmas das minhas mãos.
Aguardas por mim na passagem para a praia e eu aproximo-me de ti, confessando ao teu ouvido que afinal de contas, eu quero é ir dançar.
- perspetiva acerca de ''anda estragar-me os planos'' por salvador sobral (onde crio uma história a partir da sua letra: outrora uma carta)
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